Polêmica: afinal, qual é a melhor taça para espumante?, por Mariana Vieira

Uma questão que ronda o mundo do vinho de tempos em tempos

por Mariana Vieira

Há dois anos, comemorei meu aniversário com um almoço no Tuju, restaurante do chef Ivan Raslton. Era, inclusive, a primeira vez que visitava a casa. Naquele dia, duas coisas me chamaram muito a atenção. Primeiro o sorvete de formigas (!) que serviram de sobremesa, e a taça em que serviram o espumante que pedi. Era grande e bojuda, e eu fiquei ali, olhando para o perlage (as borbulhas) da bebida, estranhando o serviço. Mas não cheguei a falar nada, afinal, o que sabia eu de vinhos?

O formato das taças é relevante quando pensamos que existe uma tecnologia que leva em conta a dinâmica de fluídos e a interação entre o líquido e as paredes, sejam elas compostas de vidro, cristal, titânio, zircônio.

Bom, o fato é que de dois anos para cá, em diversas ocasiões, a tradicional flûte, a taça de formato alongado e de boca fechada, vem sendo substituída por taças de vinhos tranquilos em serviços de bares e restaurantes, em degustações e aulas. Por outro lado, há quem seja extremamente fiel à taça longa, um símbolo que reforça a natureza festiva dos vinhos espumantes.

Na verdade, essa polêmica é mais antiga do que parece. A primeira taça destinada ao Champanhe era a coupe, que eu particularmente acho lindíssima. Existe uma  lenda sobre a criação dessa peça, que teria sido moldada no seio esquerdo de Maria Antonieta, rainha da França, executada com o marido, o rei Luís XV.

A coupe, também conhecida como vintage, perdeu a vez para a flûte, cujo nome remete à flauta, nos anos 1960. Mas existem críticas para o uso das duas opções. No primeiro caso, o formato prejudica a conservação do espumante ao dispersar mais rapidamente os aromas. No segundo caso, o problema seria não revelar todas as nuances de uma bebida de qualidade ao fazer com que o gás se sobreponha aos delicados aromas.

Esse assunto já teve pitaco de vários especialistas e de ninguém menos que Maximilian Riedel, 11ª geração da família austríaca,  diretor do mais conhecido e respeitado fabricante de copos e taças feitos de cristal do mundo. “Meu objetivo é tornar a flûte obsoleta”, ele afirmou em entrevista à revista Decanter em 2013.

Muita gente já aderiu, inclusive, à uma solução no meio do caminho: as taças tulipa, com um bojo mediano, muito elegante. No documentário Um ano em Champagne (disponível na Netflix), reparei que a maioria dos fabricantes, enólogos e degustadores estavam usando esse modelo. Não deve ser à toa.

O que fiz recentemente foi beber o mesmo espumante, um simples e honesto Nocturno Brut em três recipientes diferentes; flûte, taça ampla para vinho branco; e na tulipa. É incrível como existem diferenças neste pequeno experimento. Recomendo fazer para quem tiver dúvidas, mesmo que isso signifique, como foi o meu caso, um leve constrangimento no restaurante onde pedi tantas opções para um maître desavisado. Diverti familiares com a brincadeira, e no final todo mundo acabou atiçando mais os sentidos e prestando mais atenção às nuances, borbulhas e sensações do vinho. Por enquanto, acredito que isso é o mais importante. De toda forma, se for experimentar seu espumante, Champanhe, Cava ou Prosecco em taças diferentes, não deixe de me contar as suas impressões.

Santé!

 

Mariana Vieira é uma jornalista brasiliense que mora em São Paulo. É apaixonada por Gastronomia em todas as suas frentes e decidiu empreender uma jornada de aprendizado no maravilhoso mundo do vinho. Acompanhe as descobertas na coluna Diário da taça no blog da Grand Cru.

Esta matéria fala sobre: Diário de Taça

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