O que os vinhos de Bordeaux tem a ver com a Guerra de Cem Anos?, por Didú Russo

Você sabia que a Guerra de Cem Anos foi um dos capítulos da história dos grandes vinhos de Bordeaux? Foi ao provar um dos rótulos de Bordeaux que Didú Russo relembrou essa história. Confira!

Por Didú Russo

Eu confesso que fui à taça deste vinho com o pé atrás. Bordeaux abaixo de cem reais?… Sabe como é. Mas vi que havia o nome da família Moueix por trás desse rótulo e minha confiança começou a crescer. Jean Pierre Mouiex é um dos grandes nomes de Bordeaux, antigo négociant, cresceu, comprou vinícolas. E que vinícolas… o Petrus é dele, para você ter uma idéia, assim como o Château Bélair-Monange, Premier Grand Cru Classé de Saint-Émilion, entre outras tantas propriedades. Até em Napa Valley, na California, tem quatro propriedades, entre elas a Dominus Estate e a Ulysses! O homem é um gigante do vinho. No total, a família Moueix tem oito Châteaux em Pomerol, dois em Saint-Émilion e outras quatro propriedades.

Mas o importante não é o tamanho que Jean Pierre Mouiex tem, mas a elegância como marca de seus vinhos. Eles têm classe. E essa classe permanece ainda hoje que os negócios estão sob o comando de seu filho Christian Moueix.

Com um assemblage clássico de Cabernet Franc e Merlot, o Marquis de Bordeaux fez bonito à mesa e aguentou, inclusive, o tempo, pois a taça que sobrou na garrafa estava ainda bastante gostosa no dia seguinte.

Você deve saber que em Bordeaux existe a clássica distinção da margem direita e margem esquerda. Os vinhos da margem esquerda têm predominância da casta Cabernet Sauvignon, comumente com assemblage de Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot. Os da margem direita, a predominância nunca é de Cabernet Sauvignon, mas comumente de Merlot. Os Mouiex estão na margem direita.

Para sua curiosidade e para animar a conversa com os amigos, saiba que Bordeaux foi propriedade de uma das mulheres mais inacreditáveis na história do vinho? Falo de Leonor de Guillaume, a quem Shakespere chamava de “a velha dama decrépita”. Filha do Duque de Aquitânia (a Bordeaux de hoje), ela conseguiu a proeza de se casar com dois reis: Luis VII da França e, posteriormente, com Henrique II da Inglaterra.

Leonor conseguiu anulação de seu casamento após quinze anos (e com duas filhas) sob alegação de que ela e Luis eram primos… A verdadeira razão foi sua paixão por Henrique de Plantageneta, Duque da Normandia, onze anos mais moço que Leonor e que viria a ser o rei Henrique II da Inglaterra, com quem se casou e teve oito filhos.

Numa história digna de novela, Leonor, que foi presa pelo próprio marido por ter tramado sua queda, colocou filho contra filho e mergulhou a França e a Inglaterra numa guerra dinástica. Ela conseguiu que seu filho Ricardo “Coração de Leão” a libertasse, lhe restituísse o ducado de Aquitânia e fizesse de Bordeaux a sede de seu trono na França. Foi Ricardo que construiu o porto de Bordeaux, o que deu grande impulso ao vinho da região.

Alguns anos depois, com a morte de Ricardo, numa trama que envolveu até o assassinato de um neto seu, Leonor consegue levar ao trono o seu filho caçula João e o convence a isentar de impostos o vinho de Bordeaux, deixando o produto de sua terra natal sem concorrência.

 

Didú Russo é Editor do site www.didu.com.br. Depois de ter passado por diversos veículos de comunicação como Revista Manchete, Editora Globo e TV Record, Eduardo Russo – mais conhecido pelo apelido Didú – escreve sobre vinhos desde 1992 e já lançou dois livros sobre o tema: “Nem leigo, nem expert” e “Vinho para o sucesso profissional”. Depois de ter ministrado mais de 200 palestras e ser o Editor de um dos maiores blogs de vinho do Brasil há mais de 15 anos, também é vice-presidente da Confraria dos Sommeliers, colaborador das revistas 29horas, Prazeres da Mesa, do Jornal do Vinho & Cia e é coordenador do Comitê do Vinho da FECOMERCIO, onde atua na desoneração, desburocratização e divulgação do vinho.

Esta matéria fala sobre: O vinho em questão...

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