Tudo o que você precisa saber sobre os vinhos do Vale Central, no Chile
Você já deve ter reparado que a viticultura chilena é toda distribuída em vales. Vale de Casablanca, do Maipo, do Leyda… Mas o Vale Central é sempre o mais lembrado. Entenda o que há por trás da denominação de origem mais popular do Chile!
O que conhecemos como Vale Central é, na verdade, uma denominação para a produção de vinhos provenientes de diversos vales do Chile: Vale do Maipo, Vale do Maule, Vale do Curicó e Vale do Rapel (dividido entre Colchagua e Cachapoal). Justamente por essa razão é mais fácil encontrar vinhos que estapem Vale Central no rótulo do que Vale do Maipo, afinal é possível produzir um vinho com uvas provenientes de mais de uma localidade.
Para conhecer a fundo o coração da vitivinicultura chilena é precisa entender as especificidades de cada uma de suas regiões. Confira abaixo:
Vale do Maipo
O Vale do Maipo é o mais conhecido vale chileno – e o ponto de referência quando o assunto é a vitivinicultura do país andino. A região se divide em Alto Maipo, próximo à Cordilheira dos Andes, e Baixo Maipo, perto da costa do Pacífico.
No Alto Maipo, as altitudes podem chegar até 1.000 m, o que significa uma temperatura mais fresca em relação ao Baixo Maipo. Além disso, a altitude faz com que a diferença de temperatura entre dia e noite, chamada de amplitude térmica diária, seja maior, ajudando o amadurecimento dos taninos e o desenvolvimento de maior elegância no vinho.
Já o Baixo Maipo, com temperaturas mais elevadas, tem influência direta dos ventos do Pacífico e, portanto, sofre uma queda significativa de temperatura durante a noite. Seus vinhos são, por consequência, mais frutados (chegando a altos níveis de concentração de fruta) e tem taninos mais maduros também.
Embora sejam constatadas mudanças de temperatura entre o Alto Maipo e o Baixo Maipo, o clima predominante é mediterrânico (invernos chuvosos e verões secos) e o solo é aluvial de boa drenagem, com presença de calcário e argila.
O principal destaque do Vale do Maipo vai para os seus vinhos de Cabernet Sauvignon de estilo maduro.
Vale do Maule
Ao sul do Vale Central, o Maule concentra a maior área de videiras plantadas no Chile. Trata-se de uma das mais antigas e tradicionais regiões chilenas e, por isso, ainda é mais fácil encontrar a casta crioula País nessa localidade.
De modo geral, o Vale do Maule tem topografia plana com pequenas ondulações e solo calcário-argiloso com origem vulcânica. Justamente por ser mais fria, a região destina grande parte de sua produção aos vinhos brancos – sobretudo Sauvignon Blanc e Chardonnay -, embora também seja comum encontrar variedades tintas como Merlot e Carménère.
Vale do Curicó
Logo acima do Vale do Maule e entre os rios Teno e Lontué, está localizada a região Vale do Curicó. Embora o clima e solo sejam os mesmos que o do vizinho Maule, a diferença principal do Curicó é umidade ocasionada pela pluviosidade um pouco mais elevada, o que acarreta uma diminuição na amplitude térmica diária.
Os vinhedos estão localizados na planície e nas encostas da Cordilheira, que dão mais expressão aos vinhos feitos com Cabernet Sauvignon, Merlot e Carménère, uvas de cultivo tradicional na região. Seus vinhos são tradicionalmente mais encorpados e exuberantes, mostrando bastante expressão varietal.
Alguns produtores começaram a investir recentemente no potencial da Pinot Noir, da Cabernet Franc e da Malbec (acredite!), que se mostra cada vez mais expressivo.
Vale do Rapel
O Vale do Rapel está dividido entre Vale do Cachapoal a sul e do Colchagua a norte – trata-se do centro de enoturismo do Chile.
A apenas 90 quilômetros de Santiago, o Vale do Cachapoal tornou-se grande ponto de enoturismo do Chile – e, inclusive, oferece a Rota do Vinho Chileno como passeio turístico. A Cabernet Sauvignon é a variedade que mais se beneficia das condições climáticas do Cachapoal, mas também é possível encontrar grande volume de Carménère e Merlot na região.
A existência de sub-vales com microclimas específicos favorecem a diversidade de vinhos encontrados no Vale do Colchagua. De modo geral, podemos dizer que foi nas cepas tintas que o Colchagua encontrou seu ponto forte. Isso porque o clima é moderadamente quente e conta com grande amplitude térmica diária ocasionada pelos ventos gélidos da brisa do Pacífico. Os solos são em sua maioria compostos por mistura de calcário e argila, podendo ter conteúdos de granito. É fácil encontrar bons exemplares feitos de Cabernet Sauvignon, Merlot, Carménère, Syrah e Malbec de todas as áreas da região.
Por Gustavo Jazra