5 harmonizações de comidas típicas brasileiras com vinho, por Amandine Castillon

O Brasil não é tradicionalmente um país produtor de vinhos, mas existem muitos pratos da rica gastronomia brasileira que vão muito bem com uma taça de vinho! Eu, como uma francesa apaixonada pela comida desse país, tenho algumas dicas bem legais para compartilhar. Vamos tentar?

Por Amandine Castillon

1. Feijoada tradicional

A feijoada é um desafio de harmonização. Carnes pesadas, com muita gordura e sabores intensos, além de muito condimentada com ervas, pimenta e louro!

Como harmonizar feijoada com vinho? Minha sugestão é optar por um vinho encorpado e tânico, para limpar a gordura da boca, e com corpo suficiente para equilibrar os condimentos da feijoada. Além disso, a complexidade do vinho precisa parear com a intensidade de sabores do vinho, caso contrário a feijoada pode matar o vinho

Minhas sugestões de vinhos para acompanhar a feijoada: o vinho tinto Escorihuela Gascon Syrah-Malbec tem toques defumados e bom corpo. Sua acidez e fruta vão muito bem com os sabores intensos da feijoada. Agora, uma opção ousada – e que vai surpreender seu paladar – é harmonizar sua feijoada com espumantes, a chamada harmonização por contraste. Escolha um espumante que passou por madeira, geralmente com método champenoise, como o Champagne Billecart-Salmon.

2. Moqueca de peixe (a capixaba e a baiana)

Você sabia que existe dois tipos de moqueca? A grande diferença para a arte da harmonização é que moqueca capixaba, típica do Espírito Santo, não leva nos ingredientes o azeite de dendê. A Baiana, por outro lado, tem o dendê como ingrediente principal. Sabe dizer por que o dendê é o diferencial? O dendê é muito oleoso e com sabor muito forte, e o vinho vai precisar casar perfeitamente bem com ele em vez de causar uma verdadeira briga no seu paladar.

Minhas sugestões de vinhos para acompanhar a moqueca de peixe: para a moqueca sem dendê um vinho rosé da Provença é ideal! Refrescante e bem frutado, as notas de frutas vermelhas frescas harmonizam muito bem com o leite de coco. Já a moqueca com dendê pede um vinho com boa acidez, como um vinho branco da uva Riesling com passagem por madeira, como o Leyda Single Vineyard Riesling Neblina.

3. Maniçoba

O que é a Maniçoba? É um prato típico do Círio de Nazaré, festa tradicional da cidade de Belém, no Pará. Chamada de feijoada do norte, é feita à base da folha da mandioca cozida durante sete dias. Essa folha, in natura, é tóxica e, por isso, precisa ser bem cozida por semanas para ficar adequada ao consumo. Com a folha cozida se faz um ensopado com costelinha,  linguiça, lombo de porco salgado, orelha de porco, bacon, além de muitas pimentas e temperos. Os acompanhamentos são arroz e farofa e caldo de tucupi (extrato líquido da mandioca que fica com cor alaranjada).

Minhas sugestões de vinhos para acompanhar a maniçoba: o vinho tinto House Tiraziz Syrah. Como a maniçoba tem aromas muito forte, o prato pede um vinho com intensidade à altura, um bom corpo e notas de pimenta.

Que os anjos da dieta me ajudem! #vatapa #maniçoba

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4. Acarajé

Entre as comidas típicas do nordeste, o acarajé baiano é uma das preferências nacionais! O acarajé é um bolinho feito de feijão fradinho e frito no azeite de dendê. Ao ser servido, é cortado no meio e recheado com vatapá, caruru, vinagrete de tomate verde e camarão.

Minhas sugestões de vinhos para acompanhar o acarajé: acarajé combina muito bem com um espumante rosé. Voilà! A fritura do acarajé em imersão de dendê pede harmonizações bem específicas, sem falar da “crocância” da casca do camarão e das pimentas. É necessário um vinho leve, mas com bastante acidez para tirar a gordura do dendê na boca, como um espumante rosé da Provença – os roses do Mediterrâneo possuem uma mineralidade que vai super bem com os sabores de frutos do mar -, como o Espumante Rivarose Brut Rosé.

5. Churrasco gaúcho, no estilo fogo de chão

O churrasco fogo de chão é o tradicional preparo de cortes de carne em espetos que são montados em cima de brasas em uma vala aberta no cão, ou mesmo diretamente na terra. Esse churrasco demora muitas horas para ficar pronto e, por isso, costuma ser iniciado ainda de madrugada, antes do sol nascer. Os cortes de carne lembram os churrascos tradicionais, mas não podem faltar as costelas e os leitões (para o tradicional prato barriga de porco).

Minhas sugestões de vinhos para acompanhar o churrasco gaúcho: o vinho certo? Certamente um Malbec argentino, como o Pulenta Estate Malbec. A carne pesada e a gordura pedem um vinho com estrutura e taninos à altura, mas que tenha acidez boa para limpar a boca. E esse Malbec tem todas as qualidades necessárias para harmonizar bem com as carnes.

Eu adoro experimentar pratos típicos de cada cidade do Brasil, mas não deixo de degustar uma bela taça de vinho como acompanhamento. Qual é a sua combinação preferida? Santé!

 

Amandine Castillon é Sommelière e Coordenadora de Produtos na Grand Cru, e está à frente da Grand École, nossa escola de vinhos. Nascida em Tolouse, no sudoeste da França, é especializada em vinhos da região de Bordeaux. Quinzenalmente, ela vai compartilhar dicas de vinhos franceses, harmonizações e enoturismo neste espaço.

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