Espanha: como o Priorato tornou-se tão popular

É curioso pensar que os vinhos mais caros da Espanha vem de uma região que praticamente não existia há 15 anos e que ainda hoje é quase desconhecida fora da Espanha, o Priorato. Quem disse isso foi ninguém menos do que a Master of Wine Jancis Robinson.

Ainda hoje é raro ouvir falar nos vinhos do Priorato. Provar um de seus vinhos fora da Espanha era coisa impossível há 20 anos. Isso porque a sub-região da Catalunha, na costa Mediterrânea da Espanha, produzia, até os anos 1980, vinhos com finalidade religiosa (e foi descoberta por jovens enólogos que, interessados pelo potencial de vinhas velhas, mudaram os rumos de sua história!).

A história do Priorato

O Priorato foi povoado pelos monges cartuxos vindos da Provença no século 12. Com o objetivo de produzir vinho para a eucaristia, os monges trouxeram a cultura da vinha para a região (e talvez seja essa a razão para a presença de Garnacha, conhecida como Grenache na França). E foi assim até 1979, quando a história vinícola da região começou a mudar…

René Barbier foi o protagonista dessa mudança. O jovem enólogo, enquanto desenvolvia um projeto pessoal em Penedès, visitou a região próxima e constatou o potencial de algumas vinhas centenárias – sobretudo de Garnacha – que estavam lá plantadas, destinadas a produção de vinho com finalidade religiosa. À época, percebeu que Garnacha e Cariñena eram as variedades que melhor se adaptaram no terroir do Priorato. Barbier chamou, então, outros quatro enólogos para identificar quais eram os terrenos mais propícios. Eram eles: José Luiz Perez, Carles Pastrana, Daphne Glorian e Alvaro Palacios.

Os cinco enólogos começaram a cultivar uvas nesses melhores e mais íngremes terrenos do Priorato e, logo  na primeira safra, introduziram novas técnicas de vinificação, assim como o uso moderado do carvalho. O resultado foi surpreendente…

Portão principal do Monastério Scala Dei, no Priorato.

O terroir do Priorato

O grande segredo dos vinhos do Priorato está justamente no solo, formado da mistura de argila e xisto vermelho com quartzo, chamado llicorella. Extremamente mineral quebradiço, o solo de llicorella facilita a penetração da raiz da videira no lençol freático, aumentando a disponibilidade de água, além de refletir o calor e a luz do sol na planta.

Embora a região pareça próxima do mar, está praticamente isolada de influências do Mediterrâneo. Suas uvas crescem sob clima extremo, quente e seco, concentrando grande quantidade de açúcares. O terreno é bastante irregular, fazendo com que a maioria dos vinhedos esteja disposta em colinas – sendo que as melhores vinhas têm orientação norte e leste, de modo que fujam da exposição solar excessiva.

A soma de todos esses fatores fazem com que o rendimento dos vinhedos seja muito baixo, o que, somado à idade avançada das vinhas, resulta em excelente concentração e complexidade em taça. Não à toa, os vinhos da região são com frequência referidos críticos com “dirigidos pelo terroir” (“terroir-driven”, em inglês).

“Bush vines” (ou vinha em arbusto) em encosta íngreme no Priorato.

As uvas do Priorato

Até a praga da filoxera chegar à região no século 20, a Garnacha era a uva amplamente mais cultivada na região. E ela continua a ter grande importância, sobretudo quando originada de vinhas velhas, de vinhedos sem condução (vinha em arbusto ou “en vaso”, em espanhol) e em solo infértil de llicorella. Nessas condições, produz os melhores vinhos do Priorato.

Além dela, Cariñena entra no ról das uvas mais importantes – que também vê excelentes resultados quando cultivada em vinhas velhas -; assim como castas internacionais, como a Syrah, Cabernet Sauvignon e Merlot, que têm ganhado cada vez mais destaque.

Que tal provar um vinho do Priorato?

A vinícola Mas Martinet é uma das que mais se destacam na região do Priorato e o Mas Martinet Marer criação de uma das mais influentes enólgas do mundo, Sara Perez. Este vinho tinto possui aromas de cereja e ameixa, com sabores de frutas maduras que agraciam o paladar.

Vinho Tinto Mas Martinet Marer 2014 750 mL


Por Gustavo Jazra

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