Conheça a Primitivo, a uva que é considerada a ponte entre o Novo e o Velho Mundo do Vinho

Conhecida como Zinfandel na Califórnia, a Primitivo é uma uva típica da região de Puglia, no sul da Itália, que tem ganhado fama por ser a casta ideal para os consumidores que estão dando os seus primeiros passos no Velho Mundo do Vinho.

A Primitivo é uma uva muito comum no sul da Itália, mais precisamente na região de Puglia, também conhecida como o salto da bota. Ali, principalmente no IGP de Salento, e especialidade das regiões de Manduria e Gioia del Colle, ela passou de uma casta considerada secundária a uma das mais importantes variedades da região, dando origem a vinhos perfumados e encorpados que estão ganhando o mundo.

A vinícola pugliese San Marzano foi uma das pioneiras no renascimento da Primitivo, em grande parte devido ao vinho San Marzano Sessant’Anni Primitivo di Manduria, que foi responsável por tornar a uva mais famosa e conhecida.

Um dos motivos dessa revolução é que a uva é perfeita para quem gosta de vinhos de estilo mais carnudo, concentrados e com bastante fruta, mas com acidez mais baixa e taninos leves. Enquanto em climas mais quentes os sabores predominantes são de frutas vermelhas, em regiões de climas mais frios se sobrepõem as frutas pretas e uva passa. Em Manduria, onde os vinhos de Primitivo são mais concentrados, também é comum encontrar a uva em corte com outra cepa regional, a Negroamaro.

Entrada de vinícola na região da Puglia, sul da Itália.

Qual é a origem do nome Primitivo, afinal?

Seu nome é uma referência à sua época de colheita. A Primitivo é uma uva precoce, o que significa que é a primeira casta tinta a ser colhida, em meados de agosto, enquanto as outras são colhidas em outubro. E, por isso, costumam ter bastante açúcar residual, o que significa um potencial de produzir vinhos com alto teor alcoólico.

Embora tenham sido encontradas rastros da cepa na Itália pelo menos desde o século XVIII, existem evidências que o vinho Primitivo tenha sido comercializado em Veneza nos anos 1400. No entanto, um estudo genético mostrou que suas raízes são, na verdade, croatas, onde ela é chamada de Tribidrag. E, para a surpresa de muitos enólogos, ela é geneticamente idêntica à outra uva, a Zinfandel, considerada por muito tempo como uma cepa originalmente californiana.

Vinho Tinto San Marzano Talò Primitivo di Manduria 2017

Vinho Tinto San Marzano Talò Primitivo di Manduria 2017

Primitivo, Zinfanfel ou Tribidrag?

A história que se tem notícia é, em meados do século XIX, imigrantes europeus trouxeram mudas da uva para os Estados Unidos. E, chegando na Califórnia, ela se desenvolveu surpreendentemente, mostrando uma incrível adaptação natural ao terroir da região.

Quando os viticultores perceberam que mais ninguém no mundo plantava essa variedade, pensou-se que a Zinfandel fosse uma uva tipicamente indígena norte-americana. De fato, os vinhedos são os mais antigos do país, principalmente na região de Lodi, alguns deles chegando a mais de 100 anos de idade!

Não à toa, seu cultivo rapidamente se espalhou por ter sido a primeira casta replantada após a praga Filoxera chegar à Califórnia.

Vinhedos da uva Zinfandel, nas montanhas da Califórnia.

Até então, o vinho tradicional produzido a partir dela era um rústico tinto seco de cor rubi intensa, com frutas marcantes, principalmente de compota de amora, framboesa e ameixa.

Foi no ano de 1972, no entanto, que a uva foi utilizada pela primeira vez para fazer um vinho rosé claro, resultado de um processo de vinificação que removia as cascas das uvas antes que elas ficassem em contato com o mosto. Este vinho, produzido até hoje com o nome de White Zinfandel é mais leve e doce do que se espera da casta.

Hoje, ela é considerada uma uva extremamente versátil da região americana, sendo utilizada para a produção de variedades muito diferentes de vinhos, do branco ou rosé claro aos tintos no estilo do vinho do Porto. Para se ter uma ideia, apenas 15% dos vinhos de Zinfandel californianos são tintos. Suas principais regiões produtoras nos EUA são as montanhas de Napa, Sonoma, Paso Robles e Sierra Foothills.

Por que a Primitivo está ganhando o paladar do brasileiro?

Mas no Brasil, e em muitos lugares do mundo, a Primitivo tem ganhado cada vez mais espaço tanto nas prateleiras quanto nas nossas adegas. O motivo? Ela é a uva ideal para o paladar sul-americano, principalmente o brasileiro, que está acostumado com os vinhos frutados e concentrados da América Latina. Frutados, aromáticos com bastante açúcar residual, típico de regiões quentes, os vinhos Primitivo têm sido a escolha óbvia para os apreciadores que estão dando os seus primeiros passos no Velho Mundo do Vinho.

Harmonizações: os vinhos tintos da Primitivo harmonizam muito bem com pratos de carne vermelha, como o tradicional Braciole a là pugliese (carne à rolê, como é conhecida no Brasil) e queijos amarelos envelhecidos, como o tradicional Caciocavallo.

Confira a receita de como preparar a Bracciola aqui.

O Braciole (bife à rolé), famoso prato da região de Puglia, na Itália.

O Braciole (bife à rolé), famoso prato da região de Puglia, na Itália.

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